A explicação para o estouro do orçamento é que o projeto inicial previa uma obra acanhada, sem garagem. Depois, de revisão em revisão, o novo prédio ganhou um heliponto, mais um auditório, um estacionamento para cerca de 1 mil veículos e 30 gabinetes para os deputados - eles são 24, mas presume-se que, com o aumento da população, possam chegar a 30 nas próximas eleições.
A nova sede do legislativo do DF virou um prédio de alto luxo, com 48.670 metros quadrados de construção, quatro pavimentos, piso de granito e paredes de vidro, no Eixo Monumental, a avenida que, dois quilômetros a leste, rumo ao Congresso e ao Palácio do Planalto, se transforma na Esplanada dos Ministérios.
Hoje, quem passa pela avenida pode ler três placas patrocinadas pelos futuros inquilinos e que soam como escárnio. "Aqui roubaremos seu dinheiro (ops!)... Aqui decidimos nosso futuro; Cidadania e dignidade como meta para toda a população; A casa do povo, a sua casa", dizem os outdoors que contrastam com o escândalo do mensalão do DEM. O governo de José Roberto Arruda está sob investigação da Operação Caixa de Pandora por ter patrocinado cobrança e distribuição de propinas envolvendo deputados e secretários e distribuição do dinheiro em meias, bolsas e cuecas.
Por causa das alegadas deficiências do projeto original e suspeita de superfaturamento levantadas pelo Tribunal de Contas da capital e pelo Ministério Público, as obras da Câmara ficaram paradas de 2004 a 2008. Um acordo entre o governador Arruda, Câmara Legislativa, MP e Tribunal de Contas possibilitou o recomeço das obras, a cargo da Via Engenharia.
A construtora teria doado R$ 300 mil para a campanha de Arruda, conforme planilha do ex-secretário de Obras Márcio Machado, divulgada na sexta-feira pelo Estado. No dia seguinte à exposição da planilha o secretário pediu demissão. A Via Engenharia recusou-se a fazer comentários sobre a obra e, por meio da assessoria, informou que só a Secretaria de Obras poderia se manifestar. A secretaria disse que a obra já consumiu R$ 95 milhões, devendo chegar a R$ 100 com os acabamentos. No momento, os operários dão os retoques finais na obra, lavam os vidros em cor azul-fumê, terminam as calçadas e plantam o gramado.
Quando o governador José Roberto Arruda fez o acordo para a retomada das obras da Câmara Distrital, ficou acertado que em 2008 e 2009 cada um dos 24 deputados abriria mão de emendas parlamentares de R$ 1 milhão, em cada ano, para que fosse conseguida a verba suficiente para a obra. Assim, a própria Câmara contribuiu com R$ 48 milhões das verba para a construção da nova sede. O governo entrou com o restante, totalizando R$ 54 milhões a verba para o novo prédio neste ano. Antes de ser pego enfiando dinheiro nas meias - conforme gravação em vídeo feita pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa -, o hoje presidente licenciado da Câmara, deputado Leonardo Prudente (DEM) tinha grandes planos para a nova sede do legislativo da capital. Queria que ela tivesse espaço suficiente para guardar os veículos dos visitantes e abrigá-los em grandes salões, de onde poderiam, na visão do parlamentar, fazer suas reivindicações.
A Câmara Legislativa de Brasília repete o que ocorre na Praça dos Três Poderes, que fica um pouco mais de dois quilômetros de distância, e abriga as sedes dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. Nas proximidades da Câmara estão o Palácio do Buriti, a sede do governo de Brasília, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE).